Arquitetura do sono
É um estado vital e complexo caracterizado por processos ativos e organizados.
Publicado em: 28 de novembro de 2019  e atualizado em: 4 de novembro de 2021
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O sono é um estado marcado pela diminuição da consciência, redução dos movimentos musculares esqueléticos e lentificação do metabolismo. Ele tem função restauradora essencial e importante papel na consolidação da memória. É um processo neuroquímico orquestrado, envolvendo centros cerebrais promotores do sono e do despertar¹.  A propensão ao sono depende de dois fatores principais: a quantidade acumulada de privação de sono e a fase do relógio circadiano (designa o período de aproximadamente 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico de quase todos os seres vivos), que aumenta o sono à noite¹.

Sabe-se que o sono é um estado vital e complexo caracterizado por processos ativos e altamente organizados, que pode ser distribuído em distintos estágios: sono NREM (Non-Rapid Eye Movements) e sono REM (Rapid Eye Movements)²  

Em condições normais, um indivíduo inicia o sono noturno pelo estágio I do sono NREM, após um tempo de latência aproximada de 10 minutos. Após uns poucos minutos em sono I, há o aprofundamento para o sono II, em que se torna mais difícil o despertar do indivíduo. Após 30 a 60 minutos, instala-se o sono de ondas lentas, respectivamente, os estágios III e IV, com interpenetrações de ambos no decorrer desta etapa mais profunda do sono NREM. Passados aproximadamente 90 minutos, acontece o primeiro sono REM, que costuma ter curta duração no início da noite (5 a 10 minutos), completando-se o primeiro ciclo NREM-REM do sono noturno³.  

A saída do sono REM pode se fazer com intrusão de micro despertares (3 a 15 segundos de duração), sem um despertar completo do paciente, mudando-se para o estágio I e, em seguida, o estágio II do sono NREM, ou passando diretamente para este último estágio e, em seguida, aprofundando-se novamente nos estágios III e IV³. Desta forma, cumprem-se cerca de 5 a 6 ciclos de sono NREM-REM, durante uma noite de 8 horas de sono³.  

Os despertares podem ocorrer a qualquer momento durante o sono, a partir de qualquer estágio, seja de forma espontânea, ou eventualmente provocada por fatores extrínsecos como ruídos ou eventos patológicos, na forma de apneias. É comum que o indivíduo não tenha consciência destes despertares, especialmente quando de curta duração e não relacionados com eventos anormais (pesadelos, quadros respiratórios, etc.)³.   

Na primeira metade da noite, ocorre sono de ondas lentas, estágios III e IV, em alternância com os demais estágios. Porém, o sono delta, III e IV, tende a não mais ocorrer na segunda metade da noite e no amanhecer, quando há alternância entre os estágios I, II e REM, especialmente nos adultos³. Em crianças até o período escolar, é comum a ocorrência de sono de ondas lentas ainda no final da madrugada, em geral, de menores duração e profundidade do que na primeira metade da noite³. Nos idosos, pode haver mudanças na arquitetura do sono, de tal forma que o sono IV não mais se registra, havendo redução de sono III e aumento do número de despertares noturnos. Isto explica em parte porque alguns idosos são mais sonolentos durante o dia. Por outro lado, esta não é uma regra geral e muitos idosos podem manter uma arquitetura relativamente preservada como no padrão do adulto³.  

As proporções de cada estágio do sono durante uma noite típica, sem fenômenos anormais e com duração compatível com as necessidades do indivíduo são: 5 a 10% de estágio I, 50 a 60% de estágio II, 20 a 25% de estágios III e IV, em conjunto, e 20 a 25% de estágio REM. A chamada eficiência de sono compreende a proporção do tempo em que um indivíduo dorme em relação ao tempo total e que se manteve na cama para o sono noturno. É considerada normal a partir de 85%. Entretanto, uma eficiência de 100% é rara, considerando-se a presença de despertares noturnos, mesmo que inconscientes³.  

Uma vez que o sono e a vigília são influenciados por diferentes estímulos de neurotransmissores no cérebro, alimentos e medicamentos que alteram o equilíbrio desses estímulos são capazes de afetar nosso nível de alerta ou sonolência ou a qualidade do nosso sono. Bebidas cafeinadas, certas drogas, medicamentos anorexígenos e descongestionantes nasais estimulam algumas partes do cérebro e causam insônia¹.   

Muitos antidepressivos suprimem o sono REM. Grandes fumantes (os que fumam mais de 25 cigarros por dia) geralmente têm alteração na arquitetura do sono, com redução do sono profundo e do sono REM. Eles também tendem a acordar 3 a 4 horas depois de dormirem devido à abstinência de nicotina¹. Muitas pessoas que sofrem de insônia tentam resolver o problema com álcool. Se por um lado o álcool os ajuda a atingir mais rapidamente os estágios I e II, por outro, rouba-lhes o sono REM e os estágios III e IV, que são os estágios mais restauradores. Portanto, o álcool tende a manter o indivíduo nos estágios superficiais de sono, nos quais podem ser acordados facilmente¹  

Durante o sono REM, ocorre redução da capacidade de regulação da temperatura corporal. Por essa razão, temperaturas ambientais altas ou baixas podem interromper este estágio do sono. Se o sono REM é interrompido numa noite, nossos corpos não seguem a progressão cíclica do sono normal na próxima vez que adormecermos¹. 

 

 
 
 
Fontes: 1. SONO: UM ESTADO ATIVO E DINÂMICO - BREVE HISTÓRIA DA MEDICINA DO SONO – Scielo. Último acesso no dia 14 de novembro de 2019. 2. Privação de Sono e Exercício Físico – Scielo. Último acesso no dia 14 de novembro de 2019. 3. O sono normal - Regina Maria França Fernandes – Revista Medicina USP/ Ribeirão Preto  - BREVE HISTÓRIA DA MEDICINA DO SONO – Scielo.Último acesso no dia 14 de novembro de 2019. 

 

Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte sempre seu médico.
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