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Ameaças digitais podem ser prevenidas

Os perigos são muitos e invisíveis, mas muita calma nessa hora: a boa notícia é que todos podem se proteger facilmente. Em entrevista, o advogado Marcelo Bulgueroni, mestre em Direito Internacional e doutor em Direito Digital Internacional pela Universidade de São Paulo (USP), ensina dicas e explica o que podemos e devemos fazer nos campos pessoal e profissional para escapar das ameaças tecnológicas.


Em geral, nós desconhecemos os perigos do mundo virtual?

Marcelo Bulgueroni - Sim. Já temos cerca de três décadas de utilização da internet pela população em geral. Smartphones e Internet das Coisas deixam cada vez mais fácil utilizar funções complexas no ciberespaço. Entretanto, é exatamente essa facilidade que nos faz ficar distantes das mecânicas da internet que nos permitiriam identificar riscos. O usuário médio está acostumado a clicar “sim“ em qualquer site, abrir anexos de e-mail sem fazer uma verificação cuidadosa do remetente, sempre assumir que o contato do WhatsApp com que está conversando é mesmo a pessoa que diz ser. Essas três situações que listei são as mais comuns para que usuários, sem perceber, instalem pragas virtuais em seus computadores e smartphones que coletam seus hábitos, senhas e mesmo vídeos de suas condutas. As ameaças digitais são múltiplas e vêm de diversas fontes, mas a vasta maioria delas pode ser combatida simplesmente com um pouco mais de informação e cuidado dos usuários.

Quais cuidados devemos ter com as mídias e redes sociais?

Marcelo Bulgueroni - São apenas uma extensão do nosso mundo físico e social com o qual já estamos acostumados. Entretanto, é curioso observar que muitos dos cuidados que tomamos no mundo físico acabam sendo esquecidos no digital. Por exemplo: se vou comentar sobre os hábitos de alguém no mundo físico de forma pejorativa, não faço isso na frente da pessoa ou dos amigos dela, faço? Entretanto, quantas pessoas não se esquecem disso ao fazer publicações no Facebook, no Instagram? Comentam em ambientes de leitura aberta a milhões e por vezes não estão preparadas para as consequências.

No ambiente corporativo, quais cuidados devemos ter para proteger dados sigilosos?

Marcelo Bulgueroni - A lista é extensa. Se tivermos que escolher algumas condutas prioritárias, a principal é: não tire do ambiente corporativo aquilo que não deve sair de lá. Ainda é muito comum “levar trabalho para casa“ gravando arquivos confidenciais em um pen drive, por exemplo, que representa um risco elevadíssimo. Cada vez mais temos soluções em nuvem e elas devem ser aproveitadas. Utilize o webmail da empresa. Se ela tiver uma VPN, que significa Virtual Private Network, ou Rede Virtual Privada, ainda melhor. Não faça, sob hipótese alguma, cópias locais em um computador ou smartphone/tablet de uso pessoal de dados que são da empresa, independentemente de serem sensíveis ou não. O cuidado com o e-mail é sempre importante também. Não encaminhe mensagens da conta corporativa para uma conta pessoal e vice-versa.
 
Entre os países da América Latina, quais os avanços mais recentes no combate a fraudes e perigos no meio digital?

Marcelo Bulgueroni - Eu diria que ainda temos muito a avançar na América Latina com relação a esse setor. O aumento da utilização da certificação digital no Brasil, por exemplo. O aumento progressivo da emissão de e-CPFs e e-CNPJs contribui para uma massificação de um sistema de criptografia e autenticação altamente seguro. Entretanto, há aspectos de cultura a serem vencidos, como a cultura que temos de entrega de tokens desses mesmos certificados e suas senhas a contadores, advogados e outros assessores “para facilitar a gestão do dia a dia“ – normalmente quem faz isso ignora que está dando um cheque em branco para quem recebe o certificado fazer qualquer coisa em seu nome. E não poderá se arrepender depois. Temos também um avanço na compreensão das empresas de que a internet não é uma “terra sem lei“ e passam a estabelecer Políticas de Segurança de Tecnologia de Informação, bem como passam a se preocupar com as formas digitais de relacionamento entre colaboradores e com seu público-alvo.

Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte sempre seu médico.
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